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Uma tese pra chamar de minha!

  • Foto do escritor: Vanessa Schweitzer dos Santos
    Vanessa Schweitzer dos Santos
  • 28 de fev. de 2021
  • 5 min de leitura

O fechamento de fevereiro está marcado em trajetória como aniversário da minha defesa de tese de doutorado. Motivo para celebrar (sim!) todos os anos!! Não apenas pela data em si, mas pelo encerramento do ciclo que ela representa. Aquela reflexão de que a aprendizagem está no caminho e não na chegada cabe muito para o processo de doutoramento.

No dia 22 de fevereiro de 2019 defendi meu doutorado, no Programa de Pós-graduação em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale, sob orientação dos professores Jairo Lizandro Schmitt e Gabriel Grabowski. A tese que hoje chamo de minha foi intitulada “Diagnóstico das ações de Educação Ambiental desenvolvidas na Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo/RS: uma análise crítica”.

A minha trajetória acadêmica já contava com uma dissertação de mestrado que verificou a viabilidade de tratamento biológico para o lixiviado de aterro sanitário, um subproduto da degradação dos resíduos sólidos urbanos. Me incomodava desde muito tempo que em geral os textos que abordavam a gestão de resíduos sólidos e seus desdobramentos (o que era o caso da minha tese), sempre se encerravam afirmando a necessária participação social nesses processos, no adequado descarte dos resíduos domésticos, na separação dos mesmos, no encaminhamento correto dos seus resíduos. Parece uma “justificativa” para toda a problemática ambiental: a falta de envolvimento social com a causa.

Obviamente a participação comunitária na gestão dos resíduos sólidos urbanos é fundamental, mas ficava sempre aquela dúvida na minha cabeça: por que algumas pessoas envolvem-se mais com as questões ambientais, inclusive adotando boas práticas em seu cotidiano, enquanto outras simplesmente não se importam? Teria a educação ambiental todo esse potencial? Seria essa a solução!?!

Nesse meio tempo ingressei como servidora na Rede Pública Municipal de Ensino de Novo Hamburgo/RS, como professora de Ciências. Na Rede, comecei a participar do Coletivo Educador Ambiental, e foi amor à primeira vista! O Coletivo é uma iniciativa da Secretaria Municipal de Educação para formação docente continuada, no âmbito da educação ambiental, que ocorre desde 2009, por meio de encontros mensais.

Curiosa sobre os processos de educação ambiental, com aqueles questionamentos martelando na minha cabeça, iniciei em 2015 meu projeto de doutorado, disposta a compreender melhor os processos de educação ambiental, sobretudo aqueles realizados nas redes públicas de ensino, e, de maneira continuada - um diferencial do Coletivo Educador Ambiental. Fui movida pela dúvida: qual é o potencial dessas práticas educativas ambientais para as comunidades envolvidas?

Nos quatro anos de doutorado cursei disciplinas excelentes, que promoveram reflexões nas mais diversas áreas que o “todo” Qualidade Ambiental envolve. Tive professores e colegas com diversas formações e experiências, o que também enriqueceu meu conhecimento e tornou mais evidente uma convicção: promover a sustentabilidade, exige envolvimento de diversas áreas do conhecimento. Conheci muitos projetos de pesquisa significativos, que promovem ou estudam a qualidade ambiental em diferentes contextos, ainda que a grande maioria deles relacione-se com iniciativas de âmbito local - siiim! Agir localmente!!

Em 2016 fiz minha coleta de dados, por meio de entrevistas semi-estruturadas, questionários e visitas nas escolas municipais de Novo Hamburgo, conhecendo o trabalho dos professores envolvidos com o Coletivo Educador Ambiental e ouvindo suas percepções. Trabalhei com dados híbridos, em uma análise quali-quantitativa, com estatística descritiva e análise discursiva, por meio da categorização textual. Registrando assim parece bem “redondinho”, quase fácil, mas definir essa metodologia deu bastante trabalho! Uma revisão bibliográfica consistente e profunda me auxiliou na definição do método de pesquisa mais adequado aos meus objetivos. E, obviamente, fiz diversas adequações ao longo do estudo - coisas que não deram certo, elementos novos que surgiram, imprevistos - pacote completo para qualquer pesquisa.

Meu objetivo principal foi diagnosticar as ações de educação ambiental desenvolvidas na Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo, analisando seus resultados e sua contribuição para a solução de problemas ambientais, por meio das concepções docentes do Coletivo Educador Ambiental. Como objetivos específicos, busquei conhecer quais são as principais atividades realizadas nas escolas do município, no contexto de educação ambiental; analisar as ações de educação ambiental observadas na Rede, avaliando sua colaboração com a qualidade ambiental e a solução de problemas ambientais da comunidade; verificar como ocorre o planejamento, a continuidade e a avaliação das propostas; analisar a concepção de educação ambiental dos professores, assim como sua percepção das atividades realizadas na Rede; e identificar as principais dificuldades encontradas na realização de práticas educativas ambientais.

Um processo de doutorado exige envolvimento enorme do pesquisador com seu objeto de estudo, uma revisão bibliográfica profunda sobre o tema em análise e muita, muita dedicação! Nos quatro anos de pesquisa, foi um prazer me dedicar a conhecer, compreender e registrar a bela caminhada do Coletivo Educador Ambiental. Talvez a conclusão mais expressiva da tese que chamo de minha foi de que é possível fazer educação ambiental qualificada em redes públicas de ensino - promover essas práticas por meio de um grupo docente em formação permanente é uma boa alternativa de inserção da educação ambiental permanente na educação pública.

É importante lembrar que a continuidade é um dos grandes desafios da educação ambiental. Apesar do trabalho em Rede, sistematizado, foi observada diversidade pedagógica tanto na concepção das práticas realizadas quanto nos resultados observados a partir destas atividades. “Percebeu-se que os docentes entrevistados são unânimes na compreensão da EA como um processo e não uma meta que acabe nas próprias práticas pedagógicas. (...) A grande maioria dos resultados das atividades de EA observadas concentram-se no interior das escolas pesquisadas” (SANTOS, 2019). Portanto, são ações em sua maioria locais - nem preciso retomar a importância de agir localmente, não é!?!

De modo geral, ao elaborar a minha tese conclui que “as práticas educativas ambientais da Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo possuem intencionalidade e são, em sua maioria, planejadas com a finalidade de se tornarem referência de boas práticas ambientais. Acredita-se que a organização e execução destas atividades sob a forma de Rede de Ensino, por meio do Coletivo Educador Ambiental, é um caminho para a promoção das escolas como espaços educadores onde as boas práticas ambientais são vivenciadas e reconhecidas, ainda que existam limitações no que vem sendo desenvolvido. Desta forma, a proposta de desenvolver a Educação Ambiental a partir da formação docente continuada na área, por meio de um grupo docente como o Coletivo Educador Ambiental, é uma boa alternativa para as redes públicas de ensino” (SANTOS, 2019).

Se eu respondi meus questionamentos iniciais? Em parte, acredito que são processos complexos demais para se encerrarem com um doutorado. E a gente aprende a vida toda, não é? Coisa boa! O fato é que a organização observada no Coletivo Educador Ambiental se mostrou uma boa ferramenta de inserção da educação ambiental nas redes públicas de ensino, podendo inclusive servir de inspiração a outros espaços. Maior orgulho de fazer parte desse grupo potente! Ressalto que pode servir de “inspiração”, porque quando falamos de educação, “modelo” é algo que não soa tão bem. É preciso sempre realizar ações condizentes com a realidade local.

Um dos meus propósitos ao final do doutorado era justamente contribuir com a divulgação de práticas ambientais, especialmente nos espaços públicos e para a comunidade não exclusivamente acadêmica, ação que se consolidou com o blog Agir Localmente! Falando em coisas nas quais acredito, encerro o texto com a frase da minha epígrafe: “Não se ilumina a escuridão lendo ou falando sobre uma lâmpada - é preciso acendê-la” (ANDREWS, 2011). É enorme o potencial das práticas educativas ambientais que promovem experiências aos estudantes, ainda que sejam em âmbito local. Acredito muito nisso!

Se você se interessou pela minha tese, ela está disponível nas referências ao final do texto, nesse link aqui, e também na aba Publicações do Blog. Nessa aba tem outras produções que fui desenvolvendo a partir do doutorado, e nos processos de pesquisa com os quais venho me envolvendo desde a graduação. E pelo link de Contato, podemos conversar mais sobre o assunto!! Compartilhar e dialogar também são maneiras de agir localmente!


Referências bibliográficas:


ANDREWS, Susan. A ciência de ser feliz. São Paulo: Ágora, 2011. 112 p.


SANTOS, Vanessa Schweitzer dos. Diagnóstico das ações de Educação Ambiental desenvolvidas na Rede Municipal de Ensino de Novo Hamburgo/RS: uma análise crítica. Tese (Doutorado em Qualidade Ambiental) – Universidade Feevale, Novo Hamburgo, 100 p., 2019.


 
 
 

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