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Não dá pra “lavar as mãos” quando o assunto são os microrganismos e as aulas práticas!

  • Foto do escritor: Vanessa Schweitzer dos Santos
    Vanessa Schweitzer dos Santos
  • 20 de jul.
  • 7 min de leitura

Atualizado: 22 de jul.

Quem trabalha com crianças, sabe, elas são do toque, da manipulação, da “mão na massa”. Ainda mais quando se é professor de Ciências da Natureza! É experiência, é mistura, é planta, é animal, é argila, é horta. Por isso, a instrução para “lavar as mãos” é uma constante! As das crianças, e as nossas, dos professores.

Para reforçar a importância e a necessidade de higienizar as mãos adequadamente, elaborei recentemente (primeiro semestre de 2025) uma experiência com os estudantes dos quartos anos do Ensino Fundamental da EMEB Jorge Ewaldo Koch, em Novo Hamburgo/RS. Essa série/ano tem os microrganismos como um dos seus Objetos do Conhecimento, no ensino das Ciências da Natureza, desenvolvidos a partir de três habilidades:


(EF04CI06) Relacionar a participação de fungos e bactérias no processo de decomposição, reconhecendo a importância ambiental desse processo.

(EF04CI07) Verificar a participação de microrganismos na produção de alimentos, combustíveis, medicamentos, entre outros.

(EF04CI08) Propor, a partir do conhecimento das formas de transmissão de alguns microrganismos (vírus, bactérias e protozoários), atitudes e medidas adequadas para prevenção de doenças a eles associadas (BNCC, 2017).


Vale mencionar que esta abordagem foi desenvolvida após os estudantes terem explorado o Objeto do Conhecimento relacionado às cadeias alimentares, momento no qual puderam descobrir a participação dos decompositores nos processos ecológicos. Como já temos e exploramos o uso de duas composteiras na escola, a decomposição em si não era algo novo para eles. Naquele primeiro momento, mencionou-se que os fungos e as bactérias auxiliam na decomposição da matéria orgânica no solo (assim como as já conhecidas minhocas), devolvendo ao mesmo os nutrientes que o deixarão fértil e propício ao desenvolvimento vegetal. Usamos o composto na horta, com frequência.

Assim, os microrganismos não eram de todo desconhecidos das crianças. Nas leituras teóricas de introdução ao tema, puderam perceber que diversos microrganismos estão envolvidos com a produção de alimentos, como no caso dos queijos, iogurtes, algumas bebidas e o próprio fermento. No microscópio, observaram o fermento biológico. Também manusearam embalagens dos alimentos já citados, verificando e identificando os microrganismos utilizados em sua produção, quando estavam registrados nos rótulos.

Gosto de realizar a leitura teórica como introdução aos novos saberes. Normalmente fazemos uma primeira leitura individual e silenciosa, reforçada pela leitura coletiva - nesse momento trocamos ideias a respeito dos conceitos e informações apresentados. Com textos adequados à idade/série das crianças, claro. Sou uma grande fã dos livros didáticos, que não, não são o único recurso possível, mas são uma excelente fonte de conhecimento. E, no caso da escola pública, estão disponíveis de modo individual e atualizados. Os livros didáticos, em geral, são produzidos e revisados por pares de especialistas na área. Reitero, não são o único recurso textual disponível, mas são uma boa fonte de consulta.

Concordo com Vilar (2020), quando destaca a importância da leitura e da escrita no ensino e na aprendizagem das Ciências da Natureza:


“(...) o texto é parte essencial da atividade científica e que competências de leitura não são inatas, mas adquiridas. Por isso, cabe ao professor de Ciências promover o contato e propor atividades que colaborem para o desenvolvimento de competências de leitura de textos próprios da área.” 


Aliás, aqui estou, professora de Ciências, compartilhando saberes a respeito de práticas de sala de aula, de modo escrito. É muito importante acompanhar essa leitura mais conceitual, esclarecendo termos que podem ser desconhecidos das crianças, fazendo e corrigindo entonações, retomando a lógica organizacional dos parágrafos e destacando informações relevantes. Esse é um ponto que procuro reforçar quando uso textos didáticos: selecionar as informações mais importantes, os termos “chave”, os conceitos básicos. Procuro fazer isso sublinhando alguns trechos, onde cada estudante pode marcar na sua cópia. Essa é uma prática muito comum quando se estuda Ciências, porém, como afirma Sedano (2013) “é corriqueiro no meio científico, mas não para estudantes do Ensino Fundamental”.

E por falar em destaque, um ponto que sempre desperta o interesse nas propostas que envolvem os microrganismos são as doenças a eles associadas e seus modos de transmissão. As crianças também demonstram curiosidade em relação aos sintomas de cada uma delas. Sempre tem alguém que conhece outro alguém que já teve aquela doença de nome estranho! É igualmente importante conversar a respeito dos métodos de prevenção, o que invariavelmente envolve bons hábitos de higiene.

Quando realizamos um diálogo coletivo sobre os hábitos de higiene fundamentais para uma boa qualidade de vida e a segurança em relação à saúde individual e coletiva, as turmas perceberam, de modo geral, a relevância da ADEQUADA higienização das mãos. Esse hábito simples está associado à diversos outros, uma vez que mãos limpas manuseiam alimentos, objetos, o próprio rosto, utensílios de cozinha, superfícies de uso comum, entre outros.

Com o objetivo de observar alguns microrganismos que estão presentes nas nossas mãos, a experiência relatada a seguir foi realizada no primeiro semestre de  2025, com três turmas de quarto ano do Ensino Fundamental, imediatamente após o momento de recreio. Orientei que cada criança pegasse em suas mãos uma fatia de pão de sanduíche, tirada naquele momento da embalagem, dentro do prazo de validade vigente. As crianças pegavam a fatia de pão, a observavam e passavam para as mãos do colega imediatamente ao lado. Assim, cada fatia de pão passou por aproximadamente 25 pares de mãos antes de ser acondicionada, por mim, professora, em vidraria devidamente higienizada. No mesmo momento, as experiências foram identificadas com caneta permanente. O material foi guardado na sala de Ciências, não sendo mais manuseado pelas crianças até o final do experimento. Nas Figuras 1 e 2 pode-se observar a experiência no dia de sua montagem.


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Figura 1: registro feito no dia da realização da atividade prática, com todas as turmas. Fonte: a autora (2025).



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Figura 2: registro feito no dia da realização da atividade prática, com todas as turmas. Fonte: a autora (2025).


Nas semanas subsequentes, nos dias das aulas de Ciências, as turmas puderam observar como os experimentos de cada uma das turmas se desenvolvia. Aproximadamente 10 dias após a montagem do experimento, as primeiras colônias de bactérias e alguns fungos começaram a ser observadas. Esse momento foi muito esperado e comemorado pelos estudantes. A Figura 3 mostra a experiência, num momento de grande surpresa por parte das turmas, já que os microrganismos que se pode observar foram parar ali, a partir das nossas mãos!


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Figura 3: registro feito após 14 dias da realização do experimento. Fonte: a autora (2025).


Para facilitar a observação, lupas de mão foram utilizadas individualmente, nos momentos de acompanhar a experiência. Nestas aulas foi visível que as crianças ficaram surpresas com o desenvolvimento dos microrganismos, especialmente com suas cores e os formatos das colônias. A cada semana, um novo e minúsculo mundo se mostrava dentro das vidrarias utilizadas na experiência.  O fato de, a cada semana, novos e diferentes organismos se desenvolverem também despertou o interesse. Os microrganismos continuavam se desenvolvendo! Confira alguns registros nas Figuras 4 e 5.


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Figura 4: registro feito após 21 dias da realização do experimento. Fonte: a autora (2025).


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Figura 5: registro feito após 21 dias da realização do experimento. Fonte: a autora (2025).


Muitas reflexões surgiram a partir da experiência prática. Inicialmente, se observou que realmente os conceitos aprendidos teoricamente, com a leitura de textos didáticos, eram reais. Uma amostra de alimento íntegro e limpo foi contaminada exclusivamente pelas mãos dos indivíduos envolvidos. Apenas manuseando este alimento, com as mão, relativamente, “limpas”.

Percebeu-se também a diversidade biológica envolvida. E, como conclusão, as próprias crianças perceberam, e relataram, a necessidade de se higienizar bem as mãos, com frequência. Um ponto que foi amplamente explorado no diálogo coletivo, foi a contaminação que pode acontecer por meio do uso compartilhado de objetos como utensílios alimentares ou garrafas de água. Além disso, mãos sujas (não lavadas adequadamente), podem contaminar alimentos, por isso, higienizá-los é fundamental. Na medida do possível, superfícies de uso comum, como maçanetas, classes e cadeiras devem ser limpas, pois constituem-se como espaços de foco para contaminações por microrganismos.

Considero que a atividade foi exitosa e cumpriu seu objetivo inicial de proporcionar uma observação prática do que já havia sido trabalhado teoricamente. As crianças sempre demonstram interesse e dedicam atenção quando se propõe experiências práticas. As temáticas das Ciências da Natureza são favorecidas, nesse sentido, por permitirem essa transposição do que foi lido ou visualizado em um vídeo, por exemplo, em algo palpável e concreto. É importante também reservar um tempo e espaço, nas aulas, para dialogar a respeito da compreensão daquilo que foi observado na atividade prática. Espero sempre que os estudantes possam, ao seu modo, relatar os fenômenos naturais observados, já que “(...) a observação e descrição foram e ainda são métodos essenciais no desenvolvimento das Ciências” (Scarpa, 2013).

É muito importante que as atividades práticas não sejam realizadas isoladamente, ou sem conexão com o que já vem sendo desenvolvido em sala de aula. Eu costumo dizer que “aula prática sem contextualização teórica é show de mágica”. E eu não sou artista, eu sou professora. Vilar (2020) corrobora com essa afirmação ao mencionar que ““É importante que a questão ou problema faça parte de um contexto, pois a contextualização desperta o interesse do estudante e facilita a aprendizagem, já que reveste o objeto de estudo de significado”. A autora ainda afirma que:


“O ensino de ciências na Educação Básica deve apresentar ao estudante essa maneira peculiar de pensar e olhar para o mundo, tão distante do senso comum. Não se promove esse encontro focando na memorização e no acúmulo de conteúdo. (...) Planejar aulas em que habilidades inerentes ao fazer científico são os objetivos a serem alcançados, ou seja, que promovam imersão na cultura científica, favorece a aproximação dos alunos à forma cética e crítica de ver fatos, argumentos e opiniões, tão predominante na comunidade científica. Na atualidade, pensar cientificamente é antídoto para fake news, pós-verdades e discursos intolerantes.” (Vila, 2020)


Assim, sigo propondo práticas educativas que buscam desenvolver a alfabetização e o letramento científico, a autonomia dos estudantes e reflexão crítica a respeito do mundo que nos rodeia. Penso que nós, professores, não podemos “lavar nossas mãos” diante da responsabilidade que temos, ao estar à frente de uma sala de aula!


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


BRASIL. Base Nacional Comum Curricular – Educação é a Base. Ministério da educação. 2017. 472 p. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>.


SCARPA, Daniela Lopes; SILVA, Maíra Batistone. A Biologia e o Ensino de Ciências por investigação: dificuldades e possibilidades. In: CARVALHO, Ana Maria Pessoa de (Org.). Ensino de Ciências por Investigação: condições para implementação em sala de aula. São Paulo: Cengage Learning, 2013.


SEDANO, Luciana. Ciências e leitura: um encontro possível. In: CARVALHO, Ana Maria Pessoa de (Org.). Ensino de Ciências por Investigação: condições para implementação em sala de aula. São Paulo: Cengage Learning, 2013.


VILAR, Claudia Vargas. ENSINO POR INVESTIGAÇÃO E APRENDIZAGEM COLABORATIVA EM AULAS DE CIÊNCIAS. In: Inspira Ciência: Programa de formação de professores da Educação Básica. Vol. 2. Rio de Janeiro: IDG | Museu do Amanhã, 2020. 112 p.: il. p. 100-104.


 
 
 

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